segunda-feira, 13 de outubro de 2008

O menor criminoso é só um residuo do sistema.


Sâmila Braga

Querem reduzir a maioridade penal. E a discussão retorna a cada nova infração séria, cometida por um menor. Casos que mobíliam as páginas de jornal e dão dias e dias de audiência aos canais de TV. O que esses que desejam a redução não compreendem ou não querem compreender, é que não é simples tomar uma medida como essas. Existem inúmeras circunstâncias e conflitos intimamente ligados à situação. Mesmo porque o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, prevê em seu Art. 15, “o direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis”.

Os adolescentes de classes baixas são excluídos por um sistema permeado de desigualdades. Sofrem com a falta de educação, com o prato vazio e a discriminação em vários aspectos. Um processo histórico levou a isso. Eles em sua maioria, não roubam, matam ou se drogam por diversão. Se não se tem o que comer em casa, seu pai é alcoólatra, a patroa da sua mãe a demitiu e um dos seus seis irmãozinhos está seriamente doente, sem remédio, a rua em muitos casos é a solução. Muitos brasileiros vivem assim. Embora, os índices de pobreza tenham diminuído a partir de 2004, como registrou o PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), o número de pessoas que vivem com cerca de US$ 1 por dia é muito grande. A miséria, em certos casos, pode sim justificar alguns atos.

Não seria plausível diminuir a maioridade penal. Os adolescentes que cometem crimes devem ser reabilitados e sociabilizados. Não podem ser jogados em um sistema prisional, com adultos, onde grandes criminosos se encontram com “ladrões de galinha”. As penitenciárias já são escolas de criminalidade para quem comete pequenos crimes, imagine-se introduzir jovens de 16 anos nesse ambiente, em que estariam expostos a diversos horrores, violência e desumanidades. Outro artigo do ECA assegura a dignidade das crianças e adolescentes, como segue adiante: “Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor”.

O desenvolvimento do jovem se dá nesse período, como é comprovado psicológica e pedagogicamente. “Na fase que vai dos 14 até os 21 anos, acontece a reorganização dos neurônios que se manifesta justamente nas áreas ligadas ás emoções, ao discernimento e autocontrole”, como aponta o psiquiatra Jorge Gaba em artigo publicado no Jornal do Comércio de 2003, na seção de família. O que mostra que a pessoa que não inteirou a idade de dezoito anos não tem ainda o discernimento suficiente para compreender o que faz. Soma-se a isso a convivência e influências do meio familiar e social.
Outro fator que se contrapõe a diminuição da maioridade é a superlotação atual dos presídios em todo o país. Se a medida fosse promulgada, logo se teria mais um problema na lista dos vários que o país possui: jovens preenchendo até o topo as cadeias, sem condições de sustentamento pela verba pública. Em vez de investir em punições e em medida que não resolvem em nada. Em junho de 2007, a partir de dados divulgados pelo Ministério da Justiça, apontou-se para uma população de quase quatrocentos e vinte mil presos, entre condenados e provisórios em penitenciárias, presídios, cadeias públicas e delegacias de polícias, com um déficit de pouco mais de cento e cinco mil no sistema penitenciário. O que pioraria as condições seria a transferência de detentos juvenis da FEBEM (Fundação Estadual de Bem-Estar do Menor).◙◙◙

Familia+escola = menos violência


Alan Regis Dantas


Há alguns anos,o nosso país vem sendo tomado por uma onda de discussões a respeito de um assunto que interessa a toda a sociedade brasileira.A redução da maioridade penal no Brasil,já originou debates acalorados entre os que são contra ou a favor de tal instrumento de possível redução da violência num pais inundado de jovens e crianças sem expectativas de uma vida melhor e mais digna.

O tratamento dado aos jovens infratores aqui,não é merecedor de qualquer reconhecimento que seja.Ao irem para uma cadeia repleta de bandidos experientes e ainda mais truculentos do que eles,essa juventude perde o direito de conhecer uma profissão e um trabalho que lhe sirva num futuro de médio a curto prazo.

Mas o que é mais importante sabermos,é que esses jovens antes de entrarem definitivamente no mundo do crime e nas drogas, é que desde o berço,não possuíram uma família estruturada e unida. A pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz/RJ), Simone Assis,realizou uma pesquisa com vários jovens envolvidos com a violência e comprovou: “Os infratores cresceram com menos controle por parte da família e sem imposição de limites pelos pais".A partir desta afirmação,podemos concluir que o tratamento adequado deve se fazer desde o berço.

Resoluções conscientes

Quero dizer com isto que a maioridade penal deve ser aplicada de acordo com a maturidade e a ordem psicológica dos jovens de responder a seus atos de criminalidade.Segundo o responsável pelo Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime no Brasil e Cone Sul (UNODC), Giovanni Quaglia, “ Os conflitos sociais brasileiros tornam o quadro de solução mais difícil do que em outros países.”onde essas medidas são tomadas.Por exemplo,na Tailândia, a maioridade penal varia de acordo com a situação, conforme a decisão do juiz, mas gira entre 17 e 20 anos. Outros países também adotaram um sistema que varia conforme a situação, de acordo com o crime cometido e com o infrator.”

A informação pode ser aplicada de melhor maneira.A conscientização de pais e famílias jovens,deve ser a de pôr os seus filhos em medidas sócio-educativas e orientá-los a partir daí ,para processos graduais de saída das ruas e consequentemente da marginalidade, com acompanhamentos diários e ininterruptos evitando a reinscidência,além de práticas esportivas e culturais que renovem a vontade de retornar a sociedade.

Dificilmente a redução da maioridade será um “remédio” para a violência dos jovens.Só com uma mobilização racional e participativa de todos os envolvidos com tal processo se pode fazer com que esse quadro venha a se transformar um dia.O direito dos jovens está assegurado por lei,e não deve ser oprimindo ou usando argumentos vingativos e revoltados que daremos uma vida melhor para eles.