quarta-feira, 24 de setembro de 2008

O sufoco do parto diário



Quem anda apertado sabe do que vou falar agora. Homem, mulher, criança, idoso, trabalhadores e estudantes. Necessitamos diariamente do transporte público. Sofremos com o desprezo por parte da prefeitura e dos representantes do poder. Os boooooooons e trabalhadores representantes do poder. Que fazem eles por nós? Alguém já viu algum no seu bairro depois da época de eleição? Não?! E você confiou nele e deu o seu voto! Porque não vai lá cobrar as promessas que lhe fizeram?... Lhe digo porque eleitor: A novela das oito, que por sinal passa às nove, é mais importante do que a sua cidadania! E o seu sofá da sala, mesmo que esteja rasgadinho ou surrado, lhe enche de conformismo, impedindo que você haja. Você tem o direito, só não vai atrás. E se eles não cumprem nada a culpa é sua.


Eles nem lembram que apertaram nossas mãos em movimentos rápidos e quantitativos, ansiosos por mais mãos e consecutivamente por mais votos. Eles são sórdidos. Sequer conhecem nossa realidade, trancafiados em suas Câmaras, escritórios ou passeando no Sedan, Rilux, ou que carro seja desse ano ou do seguinte. Ou quando não estão voando para algum país exótico por frivolidade da sua digníssima esposa (ou sogra), em férias demoradas e pagas com o nosso cansado dinheirinho. Nós que ralamos duro todo dia. Todo santo dia, enfrentando partos. Sim, porque o ônibus lotado é um parto. Você é o feto que está tentando sair do útero materno – ou tentando passar para a porta da frente/saída – e se depara com outros fetos que ainda não chegaram na hora de partir – os outros passageiros. Num momento você põe um pé, no outro bota o braço e aí vem a parte crítica: o tronco. Mas depois que passa, o alívio é imediato. A única diferença é que a maioria dos nenéns coloca a cabeça para fora primeiro. Mas isso é uma opção. O sofrimento cotidiano é resultante do déficit de iniciativa dos passageiros acotovelados, esmagados e humilhados. Temos que tomar providências amigos mártires de cada dia. A empresa de ônibus possui uma concessão que é pública, e lucra muitíssimo com ela, às custas do nosso massacre físico, social e psicológico. Os nossos direitos são garantidos. Só não são cobrados.


Pois é cidadão/ã brasileiro/a, é esse o nosso renascimento todos os dias. Você pode relatar ao seu amigo/a, ao seu primo e a sua/seu namorada/o, que você é um homem/mulher cidadão/ã novo/a a cada dia e noite. É uma luta. Quiçá um calvário. Nos horários de pico você é a phênix, com a distinção de que não volta da cinzas, volta do aperto. E ainda conseguem dizer que brasileiro é preguiçoso... Quem diz isso não conhece a capacidade que a massa tem de agüentar sufoco. Depois de passar pelo ”parto”, ainda conseguir trabalhar ou se concentrar em um livro é difícil...
- Mas, nós conseguimos!!!, pois apesar do imobilismo perante as adversidades o povo tupiniquim é guerreiro, iludido, acomodado, mas guerreiro. Então usemos o nosso poder de batalha na luta incondicional dos nossos direitos, sejam eles quais forem.


Por Sâmila Braga

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